segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ex movere

Primeiro escrevo tudo
aquilo que me aflige.
Que traga cigarros,
que range dentes
quando tento sonhar.

Escrevo e encaro
como quem escarro
e mastigo quando tento,
como tento desejar.

Onde o real,
o concreto
se encontra
com o ideal?

É no corpo,
só no sentimento?
No sentido?
Do que se lembra?
E a vida?
Diga lá o que é, baby:
uma coleção de emoções?

Um chuveiro quebrado,
um bom negócio?
um pai que morre?
um filho?
presença e saudades da amada?
realizações profundas, sagradas?
e as sacrificadas?
eram menos profundas ou sagradas?

Como os mitos são forjados?
Uma liga de bronze fundido
rompe as carótidas de um cordeiro pensante.
Qual o drama? You missed the plot!
O ator tá morto no deserto.

Qual o drama do herói?
Representar a todos?
Sendo assim?
Escutando fantasmas?

Porque escrevo meus poemas
no meu caderno de informações profissionais?
Os fantasmas não eram nada
mais que o ranger dos meus próprios
dentes quando amanhecer.
Amanhã é segunda-feira,
ou daqui a pouco?

Releio, declaro
com beijo e phalo
que quero te amar.
Se eu quero que você me ame,
começo a te amar.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

3 possibilidades para a destruição do amor

"Acabamos de definir a tríplice destrutibilidade do amor: em primeiro lugar, é essencialmente um logro e uma remissão ao infinito, posto que amar é querer que me amem, logo, querer que o outro queira que eu o ame. (...) Em segundo lugar, o despertar do outro é sempre possível; a qualquer momento ele pode fazer-me comparecer como objeto: daí a perpétua insegurança do amante. Em terceiro lugar, o amor é um absoluto perpetuamente feito relativo pelos outros. Seria necessário estar sozinho no mundo com o amado para que o amor conservasse seu caráter de eixo de referência absoluto. Daí a perpétua vergonha do amante, ou seu orgulho, o que, neste caso, dá no mesmo."
(SARTRE, Jean-Paul; "O Ser e o Nada", pág. 470, Ed. Vozes)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Eu que é só teu

Para escolher o que é parte de mim
reparte a minha vontade.
Escolho palavras e atos
tão sólidos quanto abstratos.
Jogo no mundo, se me encontrastes...
Fecho o olho e pulo
à espera de teus comentários.

Mas só eu mesmo, Para-Si
me encontraria no oráculo, hilário.

Para-Outro seria
relevante te encontrar.
Saber como ando
meu lado coisificado.
Pois das coisas que escolho
sozinho já me sinto
parte partido, já parto abandonado.
Pois faltam teus olhos
no meu sentido.
Falta eu que é só teu,
falta eu, teu namorado.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Menino Malufinho? Porra, Kassab!!


Eu vi uma coisa muito legal nessas campanhas americanas, vários designers, para expressar apoio a Obama fizeram cartazes.

http://www.designforobama.org/

Me empolguei com a idéia, e resolvi ajudar nas eleições aqui, embora com muito mais pressa.
Quem sabe ainda não dá tempo do pessoal perceber o que está atrás do Menino Malufinho...

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Vamos Acabar Com Esta Folga

Texto excelente do Stanislaw Ponte Preta, ou Sérgio Porto (pros menos íntimos)...
Uma belíssima reflexão pós-olímpica:



O negócio aconteceu num café. Tinha uma porção de sujeitos, sentados nesse café, tomando umas e outras. Havia brasileiros, portugueses, franceses, argelinos, alemães, o diabo.
De repente, um alemão forte pra cachorro levantou e gritou que não via homem pra ele ali dentro. Houve a surpresa inicial, motivada pela provocação e logo um turco, tão forte como o alemão, levantou-se de lá e perguntou:
— Isso é comigo?
— Pode ser com você também — respondeu o alemão.
Aí então o turco avançou para o alemão e levou uma traulitada tão segura que caiu no chão. Vai daí o alemão repetiu que não havia homem ali dentro pra ele. Queimou-se então um português que era maior ainda do que o turco. Queimou-se e não conversou. Partiu para cima do alemão e não teve outra sorte. Levou um murro debaixo dos queixos e caiu sem sentidos.
O alemão limpou as mãos, deu mais um gole no chope e fez ver aos presentes que o que dizia era certo. Não havia homem para ele ali naquele café. Levantou-se então um inglês troncudo pra cachorro e também entrou bem. E depois do inglês foi a vez de um francês, depois de um norueguês etc. etc. Até que, lá do canto do café levantou-se um brasileiro magrinho, cheio de picardia para perguntar, como os outros:
— Isso é comigo?
O alemão voltou a dizer que podia ser. Então o brasileiro deu um sorriso cheio de bossa e veio vindo gingando assim pro lado do alemão. Parou perto, balançou o corpo e... pimba! O alemão deu-lhe uma porrada na cabeça com tanta força que quase desmonta o brasileiro.
Como, minha senhora? Qual é o fim da história? Pois a história termina aí, madame. Termina aí que é pros brasileiros perderem essa mania de pisar macio e pensar que são mais malandros do que os outros.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Paradoxo do Busão

Enquanto as pessoas se sentirem assim toda vez, vai ser difícil o abandono dos automóveis particulares em geral. Muito bom o roteiro e os desenhos... Tema extremamente urbano e relevante. A narração parece que foi feita pelo personagem em um gravador portátil in loco, de tão convincente que são as suas entonações. Sensacional!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

A Boy named Sue

Excelente som de Johnny Cash:
A Boy Named Sue was first sung by Johnny Cash in 1969 at San Quentin. The song was written by Shel Silverstein, and become a humongous hit. It went to #1 on the Country charts, and #2 on the Pop Charts.



My daddy left home when I was three
And he didn't leave much to ma and me
Just this old guitar and an empty bottle of booze.
Now, I don't blame him cause he run and hid
But the meanest thing that he ever did
Was before he left, he went and named me "Sue."

Well, he must o' thought that is quite a joke
And it got a lot of laughs from a' lots of folk,
It seems I had to fight my whole life through.
Some gal would giggle and I'd get red
And some guy'd laugh and I'd bust his head,
I tell ya, life ain't easy for a boy named "Sue."

Well, I grew up quick and I grew up mean,
My fist got hard and my wits got keen,
I'd roam from town to town to hide my shame.
But I made a vow to the moon and stars
That I'd search the honky-tonks and bars
And kill that man who gave me that awful name.

Well, it was Gatlinburg in mid-July
And I just hit town and my throat was dry,
I thought I'd stop and have myself a brew.
At an old saloon on a street of mud,
There at a table, dealing stud,
Sat the dirty, mangy dog that named me "Sue."

Well, I knew that snake was my own sweet dad
From a worn-out picture that my mother'd had,
And I knew that scar on his cheek and his evil eye.
He was big and bent and gray and old,
And I looked at him and my blood ran cold
And I said: "My name is 'Sue!' How do you do!
Now your gonna die!!"

Well, I hit him hard right between the eyes
And he went down, but to my surprise,
He come up with a knife and cut off a piece of my ear.
But I busted a chair right across his teeth
And we crashed through the wall and into the street
Kicking and a' gouging in the mud and the blood and the beer.

I tell ya, I've fought tougher men
But I really can't remember when,
He kicked like a mule and he bit like a crocodile.
I heard him laugh and then I heard him cuss,
He went for his gun and I pulled mine first,
He stood there lookin' at me and I saw him smile.

And he said: "Son, this world is rough
And if a man's gonna make it, he's gotta be tough
And I knew I wouldn't be there to help ya along.
So I give ya that name and I said goodbye
I knew you'd have to get tough or die
And it's the name that helped to make you strong."

He said: "Now you just fought one hell of a fight
And I know you hate me, and you got the right
To kill me now, and I wouldn't blame you if you do.
But ya ought to thank me, before I die,
For the gravel in ya guts and the spit in ya eye
Cause I'm the son-of-a-bitch that named you "Sue.'"

I got all choked up and I threw down my gun
And I called him my pa, and he called me his son,
And I came away with a different point of view.
And I think about him, now and then,
Every time I try and every time I win,
And if I ever have a son, I think I'm gonna name him
Bill or George! Anything but Sue! I still hate that name!

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Teste da Cafeína!

Caféééééé!!!
Eis o meu super-score...

The Caffeine Click Test - How Caffeinated Are You?
Created by OnePlusYou

Jack Kerouac

texto passado por email por um amigo:



"Aqui estão os Loucos. Também chamados de desajustados, rebeldes e criadores de caso. Aqueles que veem coisas de uma forma diferente, que não gostam de muitas regras e que não respeitam o status quo. Você pode elogiá-los, discordar ou duvidar deles, endeusá-los ou difamá-los. A única coisa que não pode fazer é ignorá-los pois eles provocam mudanças. Eles inventam. Imaginam. Resolvem. Exploram. Criam e Inspiram. Eles obrigam a espécie humana a evoluir. Talvez eles tenham que ser loucos. De outra forma, como alguém poderia enxergar uma obra de arte em uma tela vazia? Ou sentar em silêncio e imaginar uma música que nunca foi escrita? Ou olhar a lua e imaginar uma estação espacial? Alguns podem vê-los como loucos, nós os chamamos de empreendedores. Pois as pessoas que são loucas o suficiente para pensar que podem mudar o mundo, são justamente aqueles que o fazem."

quinta-feira, 26 de junho de 2008

A arte da cantada permanente

Recebi por email um texto sensacional do grande Xico Sá. Embora eu não tenha a mesma predileção por Sônia Braga (nem mesmo tenha paciência para um xaveco de 30 anos de resignação) estou conformado com uma certa espera, e não posso deixar de concordar que o exercício da cantada permanente é uma solução eficaz contra os humores caóticos da alma feminina e, consequentemente, sua disponibilidade no mundo próximo ao seu.

A frase grifada é na minha opinião a melhor do texto todo...


A cantada, amigos, é como a revolução de Mao Tse-Tung, tem que ser permanente.
Existem mulheres que a gente canta no jardim da infância para dar o primeiro beijo lá pelos treze, quatorze.
Mas é necessário que a cante sempre, não aquela cantada localizada, neoliberal e objetiva, falo do flerte, do mimo, do regador que faz florescer, como numa canção brega, todos os adjetivos desse mundo.
A cantada de resultado, aquela imediata, é uma chatice, insuportável, se eu fosse mulher reagiria com um tapa de novela mexicana, daqueles que fazem plaft!
A boa cantada é a cantada permanente.
E mais importante ainda depois que rolam as coisas, depois que acontece, aí a cantada vira devoção, oração dos pobres moços a todas elas.
Porque cantar só para uma noitada de sexo é uma pobreza dos diabos, qualquer um animal o faz.
Porque cantar, à vera, é cantar todas e não cantar nenhuma ao mesmo tempo.
Explico: é espalhar pacientemente a devoção a todas as mulheres como quem espalha sementes nos campos de lírios.
Mesmo que elas digam, com aquele riso litografado na covinha do sorriso, que você diz isso para todas.
E claro que para cada uma dizemos uma loa, fazemos uma graça, não repetimos o texto, o lirismo, o floreado.
Porque amamos mesmo as mulheres.
Cantemos indiscriminadamente, e que me perdoe o velho e bom Vinícius de Moraes, mas cantemos sobretudo as ditas feias, esse conceito cruel e abstrato de beleza. Elas merecem, até porque as feias não existem, nunca conheci nenhuma até hoje.
Não por sermos generosos, piedade, ou algo do gênero... É que a dita feia, quando bem cantada, vira a superfêmea, para lembrar a bela pornochanchada com a Vera Fischer.
A cantada permanente e indiscriminada é irresistível, quando você menos espera, acontece o que você tanto sonhava.
Sim, tem que ter o cuidado para não ser simplesmente um chato que baba diante do melhor dos espetáculos, a existência das mulheres.
Ter que cantar sempre a mesma mulher e parecer que está apenas de passagem, que o estribilho é sempre novo, nada de larararás que mais parecem refrões do Sullivan e do Massadas, lembram dessa dupla de músicas chicletosas?
Ah, digamos que você cantou a Sônia Braga ainda naqueles tempos em que Gabriela subiu com aquele vestidinho no telhado –a cena mais quente da teledramaturgia brasileira até hoje- e e continuou cantando, sempre, sutil e sempre, e agora ela, passados tantos calendários, se comove e resolve recompensá-lo! Vai ser lindo do mesmo jeito, não acha? Na tela do nosso cocoruto vai passar o videotape de todos os desejos antigos e despejados no ralo pela morena cravo & canela.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Tarô

Me tiraram um tarô
e tava tudo indefinido,
uma visão engraçada,
era como se tivesse
tudo começado de acabar
não tinha passado, presente,
não tinha nada.

Tinha a morte,
uma carta de espadas de separação,
tinha a temperança,
uma carta de construção,
que era feita com muito esmero.

No fim,
um bobo com cara de coringa
mordido por um cão-leão,
ele morava na casa número zero.

Sábio Nelson Rodrigues

"Não se faz literatura,
política e futebol com bons sentimentos" (Nelson Rodrigues)


Bem amigos,
escrever os tons bons
não provoca literatura aqui também.

FUTEBOL: Chupa Corínthia!
POLÍTICA: Ainda bem que o CSS do Lula não é tableless, senão eu ia pra Brasília protestar.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Café também é droga

Cuidado, crianças...



Ainda estou procurando uma tradução inteira... mas a animação é animal e dá pra entender bem o sentido e o tanto que o cara vai ficando noiado enquanto canta... hehehe

sábado, 17 de maio de 2008

Brazil for gringoes

Esse eu fiz depois de uma conversa com um gringo:
"Play" is for us
actually "are".
"Jogar" it means;
but also, as well,
"tocar" e "brincar",
e aí, meu amigo,
é difícil explicar...

Na hora de
jogar e tocar
é tudo brincadeira.

That's where you get
lost in translation
what I want to say
carnaval também is "to play".

Uma rosa vermelha

Aqui havia
uma flor,
que fora deixada
para secar.

Da rosa que te dei,
um sudário agora,
pois não quiseste
ela aceitar.

Triste e magoado
mas não quis desperdiçar
guardei no caderno,
a rosa a desidratar.

Te esmaguei com uma garrafa
que não queria abrir
e depois que bebi,
suas pétalas despedaçadas
foram caindo no rio...

A correnteza não sabia
para onde te levar...
Por mais que fosse um rio,
contra as pétalas,
ele lutava contra o mar...

Hoje, guardo apenas o cálice seco,
onde hei de beber um novo amor,
por que algo eu consegui guardar
além das lembranças tintas e secas.

O Sono

Sono passa fome,
e a fome passa...
Sono passa dor,
e a dor passa...
Sono passa calor,
e o calor passa...
Sono passa tempo,
e o tempo passa...
sono passa sono,
não, o sono não passa...

Escolhas

Um poema bem antigo... Fiz numa época que gostava muito de Cézanne e que lia muita coisa sobre existencialismo.
Achei revirando umas coisas aqui em casa e resolvi postar. Das coisas antigas que li até agora, foi a única que deu vontade de postar. Vamos continuar garimpando...

Não foge... foi hoje.
E se não foi hoje
vai ser amanhã
ou depois.
O fato é que vai ser,
quer você queira ou não.

Foi hoje que você escolheu.
É amanhã que você vai escolher.
Sempre vai ter sido, seria, será,
vai estar sendo
algo que um pouco mais cedo,
foi você quem escolheu
o quê, e como...

Função Fática

- Escuta?!
- (Não escutou)
- Lembra?
- Não...
- Não lembra?
- Não.

sábado, 10 de maio de 2008

Reclamoses pesadas de um depressivo

Ouça-me bem, querida.
Não sou muito jeitoso com puta.
Fico nervoso por pouco,
te bato na bunda até ficar rouco.

*****************

Tão sozinho, te judio,
indeciso tua ferida.
Foste minha preferida,
mas só te amo nas horas do teu cio.

*****************

É menos frustrante estar sozinho.
Você me levou tanta coisa, afinal.

Levou meu brilho,
não refrato.
Levou meu senso,
não encaixo.

Faz-me mal quando tento um beijo,
pareço um animal.

Você levou toda a minha paciência.

*****************

Eu quero que todo mundo vá se foder,
pra eu poder bater minha punheta em paz.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Artista é o caralho

Super som que ouvi na Virada Cultural... Demorei uns dias pra postar, mas isso não desmerece a Orquestra Imperial, que destruiu no show de Domingo retrasado na Av. São João e tocou até "Stairway to Heaven" (!!) quando deu pau no retorno de som do palco.
Essa música é como um desabafo de todos aqueles que vivem a vida na "subjetividade", mas não querem nem saber do rótulo (vagabundo) de "artista".
Los Hermanos morreu, mas a boa música brasileira se multiplica com seus espólios, sem tirar o valor de qualquer outro da banda (é só que eu não conhecia os demais).
Aliás... a fadinha que estava de azul no palco tb me deixou boquiaberto com aquela voz...
Aqui vai a música (num show do Circo Voador), mas a good vibe sonora carioca também estava presente no show de Sampa. Por um breve momento me senti no Carnaval do Rio durante o show... E olha que eu tava em plena avenida São João!



Artista é o caralho
(Orquestra Imperial)

Eu sou bom de cama, sei fazer café
E ninguém reclama do meu cafuné
Mas... artista é o caralho, é o caralho!

Eu sou bom de bola, jogo com calor
Canto na viola sempre com amor
Mas... artista é o caralho, é o caralho!

Canto no banheiro sem vacilação
Já ganhei dinheiro na televisão
Mas... artista é o caralho, é o caralho!

Gosto de cinema, gosto de dançar
De fazer poemas em papel de bar
Mas... artista é o caralho, é o caralho!

Já entrei na lista de uma tal mulher
Que é capoeirista e tem samba no pé
Mas... artista é o caralho, é o caralho!

domingo, 27 de abril de 2008

Your emotion to the ocean

Waking life permanece como o melhor filme que já assisti. Essa cena, a melhor cena. Aqui vai também o trecho do script que não tive os dons de traduzir, pq acho q fica uma merda toda vez q tento traduzir. Além de diálogos potentes, o filme tem uma edição ótima, uma direção de arte de tirar o fôlego. Foi a primeira vez na vida que assisti um filme nesta técnica de rotoscopia, que consiste basicamente em filmar e depois desenhar por cima no computador.

A sensação "onírica" é completa com as camadas (layers) de desenhos que se movem em direções independentes. Deixam até mesmo tontos, nos primeiros minutos, os mais esteticamente fracos da vista. Vale a pena também reparar no tamanho do olho do marinheiro enquanto fala e no patinho que faz "blablablá" na altura do 1min24s hehe.

Sempre achei q o cara falava "your emotion to the ocean"... hoje quando fui procurar o roteiro percebi que era "we're in motion to the ocean". Ainda acho muito melhor do jeito que ouvi pela primeira vez, mas tudo bem, isso não muda muuuuita coisa na cena, só fica um pouco mais mecânica e um pouco menos lírica...

Será que ele não fala "your emotion to the ocean"? mesmo??? claro q não :-$
Bom, assistão vocês mesmos... Toot, toot!



(A boat car drives up in front of the airport)

Ahoy there matey! You in for the long haul? You need a little hitch in your get-along, a little lift on down the line?

Oh, um, yeah, actually, I was waiting for a cab or something, but if you want to ...

All right. Don't miss the boat.

(He gets in.) Hey, thanks.

Not a problem. Anchors aweigh!

So what do you think of my little vessel? She's what we call "see-worthy." S-E-E. See with your eyes. I feel like my transport should be an extension of my personality. Voilà. And this? This is like my little window to the world, and every minute it's a different show. Now, I may not understand it. I may not even necessarily agree with it. But I'll tell you what, I accept it and just sort of glide along. You want to keep things on an even keel I guess is what I'm saying. You want to go with the flow. The sea refuses no river. The idea is to remain in a state of constant departure while always arriving. Saves on introductions and good-byes. The ride does not require an explanation. Just occupants. That's where you guys come in. It's like you come onto this planet with a crayon box. Now, you may get the 8-pack, you may get the 16-pack. But it's all in what you do with the crayons, the colors that you're given. And don't worry about drawing within the lines or coloring outside the lines. I say color outside the lines. You know what I mean? Color right off the page. Don't box me in. We're in motion to the ocean. We are not landlocked, I'll tell ya that. So where do you want out?

Uh, who, me? Am I first? Um, I don't know. Really, anywhere is fine.

Well, just -- just give me an address or something, okay?

Uh --

Waking Life: Chapter 2 - Anchors Aweigh: Linklater without a head(The guy sitting next to him in the back seat speaks up) Tell you what, go up three more streets, take a right, go two more blocks, drop this guy off on the next corner.

Where's that?

Well I don't know either, but it's somewhere, and it's going to determine the course of the rest of your life. All ashore that's going ashore. Ha ha ha ha ha. Toot, toot.

***

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Ofídeo

Esse cara (Squeeze Girl) é tão trash, mas tão trash que merece um poeminha trash, só pra ele:

Você rompeu
membranas no meu coração.
Dilacerou meu peito,
roubou meu sorriso,
calou um violão ventrículo,
meu assunto morreu venoso.

Uns anos de retratos,
uma caixa inútil
na vida de um réptil.

O sangue frio
bota fogo nas fotos:
uma a uma.

O sol e a desmemória
aquecem as hemácias
num abraço-anaconda,
viram amazonas à caça
de subterfúgios de carne.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Branded Baby


A imagem (provavelmente) é da AdBusters. Não é grande novidade fazer montagens, ou ver pessoas "de verdade" com tatuagens e logotipos corporativos, mas é a primeira vez que vejo num bebê amamentando.

Não sobraram muitos comentários depois da foto...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Desista da Publicidade




O mesmo pessoal que fez e distribuiu adesivos escritos "You don't need it" para colar em cartazes e placas publicitárias há poucas semanas atrás, agora lança uma nova campanha onde promete ajudar publicitários que queiram desistir da profissão e fazer outra coisa. Eles prometem inclusive ajuda financeira! Se você, colega, acha que não vai mais dar certo, eis a solução... Aqui vai o link para se informar e aqui o link para preencher o formulário de adesão.

Vou dar uma lida com cuidado nos termos agora. Não nego possibilidades! hehehe



Bom... não preciso dizer que achei a idéia muito boa. Tanto a primeira dos adesivos, como esta incentivando e bancando um mundo com menos marketeiros/publicitários.

Obviamente, não é uma medida que trará alguma alteração pragmática no mundo. No entanto, toda vez que se pára pra pensar sobre a crescente antipatia mundial contra os métodos mercadológicos, eu acho válido. Gosto de ver holofotes midiáticos focando neste assunto... A grande ironia na minha opinião é que tudo o que é criado para fins "anti-publicitários" acaba fagocitado pelo mainstream-corporate-trendy-stilish-cutting-edge e regorgitado em forma de peças mal e porcamente parafraseadas/ parodiadas.

Não demora pra Nike ou a Sprite distribuirem stickers "anti-publicidade". Nada específico contra as duas empresas dadas como exemplo; mas que não demora, não demora :-s

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Amor Natural (Carlos Drummond de Andrade)



Fazia muito tempo q procurava estes poemas pornográficos do Drummond, mas nunca tinha encontrado... Talvez não tivesse procurado direito, mas valeu a pena encontrar. São absolutamente sensacionais!

Sei que este blog anda um tanto quanto "libidinoso", mas fases são fases... Sem contar que existem influências externas para isso... um assunto puxa o outro.

Enfin! Me parece que a idéia de "bicho humano" nunca esteve tão desenvolvida quanto na cabeça dele. Ao mesmo tempo que, nestes versos, vai atrás de um hedonismo crú, quase egoísta; Drummond acaba de me provar que é possível perder todos os pudores publicamente sem ser vulgar com a própria imagem. Sem deixar de sentir o mundo nos ombros, ou de querer andar por aí de mãos dadas, ou de ser anjo gauche na vida, ou de encontrar pedras no caminho, ou de ser um humano: "estranho ímpar".
O último desta lista é é sem dúvida meu favorito. Aqui vão:

Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


A castidade com que abria as coxas

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres

em mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.


Mimosa boca errante

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.


Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Rock n' roll, babe, rock n' roll!!



Aconteceu num sábado. Já fechara o metrô quando fiz baldeação para a linha verde. Não me lembro bem se era Paraíso ou Ana Rosa. Estava voltando do cinema que fui assistir com a Fefa. Era a primeira vez que saía com ela, depois de conhecer numa balada. Provavelmente seria a última, é difícil dar sorte...

Me sentei bem à vontade no banco cinza desocupado. Não foi por nada, havia só uma garota no trem e resolvi me sentar de frente para ela. Imaginei ter visto um piercing na língua dela enquanto ela falava, cutucando outra jóia no nariz delicadinho. Ela era linda e a mini-saia pendia o olhar até o final da meia arrastão, que continuava numa bota preta, que continuava até o fim de um salto alto, até o final de uma ponta fina.

Já era... Estávamos na Consolação quando os dois que acompanhavam a moça desceram, provavelmente para a Augusta. O maluco do bigode também desembarcou. As portas fecharam, o cara do violino parecia um tanto bêbado agora. O contraste da indulmentária erudita com o tio do bigode "do avesso" não permitiu que eu avaliasse o músico direito. Agora ele estava sentado com a cabeça entre os joelhos, deprimente.

Olhei para uns dois cartazes de publicidade rapidamente antes de correr meu olhar para moça, que estava me encarando! Encarar é quase proibido no metrô. Estávamos praticamente sozinhos no vagão... Já queria imaginar que não podia ser sem querer aquela encarada, mas ainda era cedo demais para tirar tantas conclusões.

O metrô pára e abre em Clínicas, imóvel. A capa aberta pelo banco, todo aquele preto era uma moldura para a cintura fininha que brilhava com o piercing no umbigo. Ela abaixou o olhar e com as pernas juntinhas, encostou a mão esquerda na coxa. Começou a repetir o desenho da meia com a ponta do dedo, como se estivesse redesenhando a rede das pernas branquinhas com a unha.

A suicide girl levanta o olhar e o indicador direito, antes que eu pudesse desviar, e chama com o dedo. Olho para trás e ninguém entrou no vagão, as portas fecharam. Balbucio qualquer coisa faticamente para ter certeza de que era comigo.

Aquela cena de propaganda de desodorante me move. Sento-me ao lado dela. Ela se chama Ana, vem de Francisco Morato pela primeira para Sampa, não tem onde durmir e quer passar noite no Morrison, por isso vai descer na estação Vila Madalena:

- Você sabe me explicar onde é?

Viro o olhar para o teto por um segundo, para pensar e, antes que pudesse dizer que era longe pra caramba dali (ou perguntar se ela tinha realmente fugido de casa) ela pulou e me arrancou um beijo. Nossa! Ela tinha um piercing na língua mesmo! Chegando na estação Sumaré vazia, poucos carros lá embaixo. A porta abre, ela coloca a mão dentro da minha calça. Quando já não mais percebia nada, o músico está de pé ao nosso lado, cambaleando e esbravejando:

- Vocês se respeitem, se respeitem!

A porta se fecha, ele se vira e corre mais desolado em direção à porta, batendo no vidro, quase chorando:

- Eu quero descer! Quero descer! Abre, abre!

Ele vira de novo, nos olha, abaixa a cabeça, encosta as costas na porta e desce deslizando até sentar no chão. A porta abre com uma campainha, ele quase cai fora. Levanta-se e vai embora correndo, ao se assustar com a campainha da porta, que se fecha novamente. Rock 'n roll, babe, rock 'n roll...

terça-feira, 8 de abril de 2008

Deixa eu ver, Cariño, deixa?



Mostrou os olhinhos brilhando com um sorriso... Não tem como não se alegrar. Poderia ficar ainda mais horas online para encontrá-la daquele jeito. Falar era uma telepatia com os dedos. Os silêncios não eram vácuos, pois se preenchiam de calores efusivos. Claramente um ritmo se estabelecia com a respiração.
Vez ou outra ela ligava a webcam. Madeixas negras enquadrando o pescoço e ombro nú. Queria sabê-la, mas perdia o raciocínio em contemplação perplexa. Ela falou que tinha engordado. Sabia que era a deixa para um galanteio mais ousado:

"vc deve tá uma delícia então..."

Imaginava tudo ainda mais redondinho, curvas firmes e suspensas. Quando ela ficava de pé, sua pele sustentava com rígida suavidade toda a carne, cujo peso reforçava ainda mais a perfeita hipérbole na pele debaixo dos seios e da bundinha. Incentivava contido, mas ofegante:

"levanta preu te ver, Cariño
tenho certeza de que vc tá maravilhosa"

A ninfa sabia o que fazer para provocá-lo até o fim. Não existe fetiche mais cruel que a virtualidade:

"não posso, estou só de calcinha"

Foi assim e mais algumas deixas...

"Deixa eu ver, Cariño, deixa?"

domingo, 6 de abril de 2008

Saia



E Deus criou o homem. Mas o homem andava muito borocoxô... Só naquela posição de pensador bêbado.
Aí Deus criou a mulher. Mas mesmo assim o homem não percebeu como que aquilo poderia melhorar. Homem nunca percebe estas coisas, imagine então o primeiro deles.
A mulher andava triste e nua pelo paraíso, sem ninguém para lhe assobiar o balanço. Nem construção civil havia para encher o ego dela... Desesperada e sem filhos, aos 30 e poucos, Eva tinha a mais poderosa combinação estética em si: a própria beleza feminina original. Para ajudar, seus hormônios ferviam e fermentavam de tesão por Adão.
Deus não entendia o que estava acontecendo:
- Porque não te multiplicas, mulher?!
- Tento de tudo, mas nada parece chamar atenção dele, ó pai. Ele fica lá pensando, murcho e sem viço... Não posso mexer naquilo que não é meu, não como está.
- Precisas provocar o homem, minha filha, não deixa ele pensar... Ele será todo teu quando o sangue faltar ao raciocínio.
- Ok...ok... Acho que agora entendo o que dizes, Senhor.
- Queres uma maçã para ajudar?
- Não, não... Dá-me uma saia que resolvo :-)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Custom-Capitalism vs. Capitalismo de Consumo



Olhei para a foto e esta foi a primeira coisa que veio à minha cabeça "custom capitalism". Sei muito bem que Capitalismo de Consumo é um termo científico e que ele deve englobar milhões de conceitos dentro de sociologia, economia e etc. Ainda em tempo, não sei se existe alguma tradução para o termo em inglês... ou se ele foi cunhado por algum francês que não é aceito na literatura anglo-saxônica.
Mas (!) uma coisa eu sei: a palavra custom, por forças culturais, quer dizer muito mais do que "consumo". Custom significa, antes, um hábito, uma prática, um modo de agir social. Custom é definitivamente um fato social. Numa consulta simples um dicionário online qualquer, como o Answers.com, podemos encontrar o seguinte:

Custom
noun
1. A habitual way of behaving: consuetude, habit, habitude, manner, practice, praxis, usage, usance, use, way, wont.
2. The commercial transactions of customers with a supplier: business, patronage, trade, traffic. See transactions.

adjective
1. Made according to the specifications of the buyer: custom-built, customized, custom-made, made-to-order, tailor-made.

O que queria explicitar é que o ato de consumir tem um significado muito mais complexo no léxico daqueles cuja língua-mãe é o inglês. Para nossotros, hablantes de português, creio que faria mais sentido o termo "Capitalismo de Costume" ou "Capitalismo sob medida", ao invés de "Capitalismo de Consumo". Consumo conota algo perjorativo em mim, algo descartável, destruidor, imoral e definitivamente estrangeiro. Já vi centenas de plaquinhas em estabelecimentos comerciais ingleses onde se lê "thanks for your custom", imagine aqui no Brasil... hahaha "Obrigado pelo seu consumo"? Muito politicamente incorreto para os meus super-padrões brasileiros de coisas politicamente incorretas. Acho que as padarias vão continuar com o famoso "Obrigado pela preferência", o que no final das contas acaba por ser um agradecimento ao hábito, ao costume daquela pessoa (tal qual o é na Inglaterra).

Esta foto, tirada por Sam Javanrouh em Toronto, tem muito mais sentido assim: Custom-Capitalism. Não desmerecendo o nome dado pelo fotógrafo, muito mais poético e descritivo ("The Fountain").

domingo, 30 de março de 2008

Balcão



O balcão de um bar é um dos melhores lugares para se estar. Existe algo de maduro em ficar encostado ali mamando. Talvez sejam as banquetas altas, inalcansáveis e perigosas para uma criança, mas alguma coisa me diz que isso tem mais a ver com postura de quem ali fica. São os cotovelos apoiados, os pés longe do chão (como se fosse uma criança, inclusive) e, principalmente, a mobilidade rotacional, que permite a quem se instala uma gama de possibilidades sociais que vão muito além do que qualquer limitada "mesa de boteco". Quem senta num balcão não tem foco:

- Tem fogo?

O balcão é como um altar, bebe-se o salário pois não há nada de melhor a fazer com o dinheiro, seja quanto for. São créditos sociais sacrificados com euforia e isso é indispensavelmente necessário para viver. Cada garrafa na estante guarda anos de inteligência cultural, destilada ou fermentada. Doses só podem ser negociadas de maneira justa para ambas as partes ali, no balcão:

- Completa! Por favor...

O balcão atende aos taciturnos, aos estrangeiros, aos estranhos, aos tímidos. Todos os tipos de drinks para todos os tipos de alcólatras. Cada um com seu estilo de vida, personalidade e atitude (atitude, cara!), requisitos sem os quais não se deve sentar num balcão. O balcão é a porta de uma conversa. Porta de entrada e porta de saída. À direita ou à esquerda, para o salão ou para o bar: tudo em volta não teria sentido se não houvesse balcão. Ninguém está sozinho - e nem quer ficar sozinho - quando se encosta no balcão de um bar. Nem mesmo um barman tomando um bourbon no final do expediente. Para ele, o balcão é o limite entre trabalho e hedonismo. Quando vai beber, senta-se fora do balcão e isso tem razão de ser. Mesmo que ele odeie ser barman, isso nunca vai deixá-lo longe de um balcão. O balcão não tem nada a ver com isso:

- Última rodada!

O balcão é onde vícios e virtudes se confundem no discurso. O balcão é a esperança de esperar que algo aconteça, que alguém te conheça. O balcão é onde se fica à vontade para ser como você é, sem se importar com seu próprio humor. Afinal, o balcão é a casa dos humores, é lá que tudo pode mudar. O balcão parece um filme.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Simpatia é quase amor



A tua simpatia
vem dos sonhos
e desafia a alegria:
preciso ficar feliz
p'ra dizer que te quero.

Pois depois disso quero é sorrisos
fartos, aqueles teus largos,
surpresos, mas bem pouco indecisos.

Meu querer não é mais triste não,
ele simpatiza pelo teu coração.
e simpatia é quase amor,
até que se prove que não.

domingo, 23 de março de 2008

Cafezito lá da Arábia (Caqueira, Sapeira e Cia. Ltda.)



Em ritmo de marchinha, resolvi publicar (sem autorização expressa) esta bela canção dos Lisérgicos Românticos que se afasta um pouco do que estamos acostumados com a banda (rock'n'roll & rock'n'roll). Segue na íntegra a letra:

(2x)
Cafezito,
se não me engano
bebida oriente lá da Arábia.
Cafezito,
quanto andaste a caminhar,
p'ros lábios da morena adulcicar.

A loira te olhou com desejo,
a ruiva quase desmaiou com teu calor,
e a nobre mulata,
ao te dar um beijo,
p'ra sempre se apaixonou.

sábado, 22 de março de 2008

Encadenados (Armando Manzanero)

Hoje estava assistindo aos "Maus Hábitos" do Almodóvar... Foi mais uma daquelas vezes que precisava escrever algo, mas, um pouco antes, acabo encontrando alguém que já teve o trabalho de escrever algo muito melhor por mim...



Tal vez sería mejor que no volvieras
quizás fuera mejor que me olvidaras
Volver es empezar a atormentarnos
a querernos para odiarnos
sin principio ni final

Nos hemos hecho tanto, tanto daño
que amor entre nosotros, es martirio
jamás quiso llegar el desengaño
ni el olvidio, ni el delirio
seguiremos siempre igual

Cariño como el nuestro es un castigo
que se lleva en el alma hasta la muerte
mi suerte necesita de tu suerte
y tú me necesitas mucho más

Por eso no habrá nunca despedida
ni paz alguna habrá de consolarnos
El paso del dolor, ha de encontrarnos
de rodillas en la vida
frente a frente... y nada más

********************************

Agora o vídeo (cuja música é a única coisa que interessa) com a interpretação de um dueto:

quarta-feira, 19 de março de 2008

Blues



O blues não é para você se sentir melhor,
é para os outros se sentirem piores:



The Blues is allright (Gary Moore)

Want you to hear me when I say
that the blues is back,
and it's here to stay.

I wanna tell you a story,
a story all about the blues.
I want you to listen to me baby,
while I sing it to you.
Want you to hear me when I say
that the blues is back,
and it's here to stay.

I used to have me somebody,
she mean't the whole world to me.
But she left me for someone else,
left my heart in misery.
Yes, she did!
But I knew the day she left me
that the blues was gonna be a part of me.
Yes, it was.

Since you left me with the blues,
it was the last thing I thought I could use.
But I'm glad that you left me,
left me with the blues.
If you hadn't given me the blues,
I wouldn't find myself someone sweet as you.

And I'm gonna tell you.
I said hey, hey, the blues is allright.
Hey, hey, the blues is allright.
I said hey, hey, the blues is allright.
Hey, hey, the blues is allright.
Allright , allright
Allright , allright
every day and night.

Here we go Albert!
One more time!

segunda-feira, 17 de março de 2008

Tiro no Pé



Aí eu disse
(p'ro meu último leitor)
que não queria ler
os comentários dele
porque já era demais
agüentar minhas próprias rimas:
- Muito menos ler suas poesias!

PS: Conteúdo ficcional que não expressa a verdadeira opinião do autor, pelamordedeus!

TrovasTrash

Pequeno e inseguro
te beijo a mão,
grande guerreiro
sem nenhuma noção.

Como faz p'ra saber
não sonhar em vão?
Como faz p'ra escolher
entre drama e paixão

Se me monto cavaleiro
e batalho inútil
com sua presença,
que me tira o chão?

Mais uma musa
que me usa quase o perdão;
que escrevo mil versos
e mais dores que um não.

Questionamento



É claro que me irrito...
comigo mesmo, é claro!
Sempre e a todo momento.
Várias horas por dia me questiono
se devia parar, mesmo de questionar,
mas é um saco e não posso mais
me carregar e fico mais puto e
faço menos e melhoro mais
minha auto-irritação,
sem frear a buzina.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Comparação Simples



Quarenta dias
no deserto
são mais alegrias
que quarenta noites
de Domingo
sem companhia perto.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Liar (Rollins Band)



You think you're going to live your life alone
In darkness and seclusion... yeah, I know
You've been out there and tried to mix with those animals
And it just left you full of humiliated confusion
So you stagger back home and wait for nothing
But the solitary refinement of your room spits you back onto the streets
And now you're desperate and in need of human contact
And then you meet me and your whole world changes
Because everything I say is everything you've ever wanted to hear
So you drop all you defenses, I'm perfect in every way
cause I make you feel so strong and so powerfull inside
You feel so lucky
But your ego obscures reality that you never bothered to
Wonder why things are going so well
You want to know why?

cause I'm a liar, yeah, I'm a liar
I'll tear (rip) your mind up, I'll burn your soul
I'll turn you into me, I'll turn you into me
cause I'm a liar, a liar, a liar, a liar...

I'll hide behind a smile and understanding eyes
And I'll tell you things that you already know so you can say:
I really identify with you, so much
And all the time that you're needing me is just the time
That I'm bleeding you, don't you get it yet?
I'll come to you like an affliction then I'll leave you like an addiction
You'll never forget me... do you wanna know why?

I don't know why I feel the need to lie and cause you so much pain
Maybe its something inside, maybe its something I can't explain
cause all I do is mess you up and lie to you
I'm a liar, ooh, I'm a liar
But if you'll give me another chance I swear I'll never lie to you again
cause now I see the destructive power of a lie,
They're stronger than truth
I can't believe I ever hurt you, I swear I will never lie to you again
Please, just give me more chance, I'll never lie to you again, no,
I swear, I will never tell a lie, I will neer tell a lie, no, no
Ha ha ha ha ha ha ha ha ha! sucker! sucker! sucker!

I am a liar, yeah, I am a liar, yeah, I am a liar
I lie you, I feel good, I am a liar, yeah
I lie, I lie, I lie, I lie ooh, I lie, yeah, I lie
Im a liar, I lie, I like it, I feel good, I like it, and again
I like it again and Ill keep lying, Ill promise

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Desejo (Victor Hugo?!)



Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Como achar aquela fonte que você precisa e não tem?



Essa dica é pros colegas designers:

A próxima vez que seu cliente mandar aquele arquivo pra você "só" alterar o texto e aparecer uma lista de 29 missing fonts, não mande seu mecenas para a "casa do caralho": respire fundo, abra o Google e digite o nome da fonte que você precisa seguido de ".zip" e/ou ".rar".
Por exemplo: hoje precisei da família "Humanist 521 BT"; digitei no buscador "humanist521BT.zip" e tcharan! Lá estava o arquivo me esperando com um sorriso... A família inteira!

Bom... se nem isso resolver, você pode ainda tentar uns outros sites muito bons:
AllFontz.com
DaFont.com

E dois tipógrafos nacionais muito bons e reconhecidos:
Misprintedtype.com (Fontes com falhas de impressão)
Just in Type.com (Fontes inspiradas em pixação urbana)

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Parodiando Fernando Pessoa na caruda, sem respeito, pé no peito, com estilo Jorge Ben...


Eu quero quer sempre aquilo com quem eu simpatizo,
e eu torno-me sempre, mais cedo ou mais tarde aquilo com quem eu simpatizo.
E eu simpatizo com tudo.
São-me simpáticas as mulheres superiores porque são superiores, e são-me simpáticas as mulheres inferiores porque são superiores tanto, porque ser inferior é diferente de ser superior,
e isso é uma superioridade a certos momentos de visão.
Eu simpatizo com algumas mulheres pelas suas qualidades de caráter com outras eu simpatizo pela falta dessas mesmas qualidades e com outras ainda eu simpatizo por simpatizar com elas
porque eu sou rei, absoluto na minha simpatia basta que ela exista para que eu tenha razão de ser!

Esperar e Chegar

Excelente poema q encontrei num blog ... É tão bom que vou copiar na íntegra... inteirinho! estava procurando imagens e por acaso me aparece este toco... a primeira frase me chamou atenção, entrei e pronto: tava lá a pérola que eu precisava ler. Ó! Silêncio eterno e constrangedor da memória banida ao profundo inconsciente da vontade de amar...


"Como um silêncio ao contrário enquanto espero escrevo uns versos. Depois rasgo."
(A. C.)




Porque esperar é a melhor saída quando você não quer o bastante. Porque esperar é mais fácil. Porque esperar é mais cômodo. Porque esperar é sempre mais tranqüilo. Porque esperar não dói. Porque esperar não machuca. Porque esperar não faz mal. Porque esperar é não acontecer. Porque esperar não dá trabalho. Porque esperar não é verbo intransitivo. Porque esperar é o mesmo que te aguardar e isso eu faço muito bem.

Porque chegar é encontro. Porque chegar é bom. Porque chegar é voltar. Porque chegar é saber. Porque chegar é poder olhar. Porque chegar é saber escolher. Porque chegar é entender o desejo. Porque chegar é estar. Porque chegar é não mais sentir saudade. Porque chegar é visitar as origens. Porque chegar é deixar de esperar. Porque chegar é querer estar perto e eu sempre quis isso também.

Porque entre esperar e chegar está o segredo.
E porque é essa a palavra do dia.
Só porque eu quero.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Parábola da Árvore da Vida

Uma das histórias favoritas do meu velho poderia muito bem ter sido tirada de algum livro do Evangelho. Tem a cara de uma daquelas parábolas do "Filho Pródigo"; ou então aquela outra do patrão que distribui "talentos" aos servos. Mas não é. Ela foi um pouco atualizada. Some-se a isso minha novíssima versão e fica assim:

Um menino e seu pai plantaram uma árvore. Era a primeira que o pequeno ajudava algo a nascer. Aquilo não tinha muito sentido na sua cabeça:

- Pai, p'ra quê plantar árvores se elas nascem sozinhas?

- Ora, filho, esta vai crescer aqui onde escolhemos, não precisaremos ir até ao mercado comprar seus frutos e teremos uma frondosa sombra para descansar.

Assim, fez sentido dar vida àquela árvore. O menino aprendeu a cuidar e ter muito carinho pela muda, que logo espichou, multiplicou seus galhos, raízes, folhas, flores e frutos.

Um triste dia, o pai do garoto morreu. O menino que não entendia isso direito, saiu a vagar e neste dia descobriu que podia conversar com o vegetal. Ele chorava porque era muito novinho e sem seu pai não sabia nem como arranjar comida. Foi assim que, num gesto paternal, a árvore ofereceu seus frutos. O piá comeu tudo o que pôde e fez uma baita sujeira. Lambuzou-se e com fiapos entre os dentes aproveitou até o caroço de cada polpa. Cresceu com isso... Estudou, não usou muitas drogas recreativas, exercitava-se regularmente e quase nunca lembrava de visitar a velha amiga árvore...

Num outro dia especial xis, o menino virou um jovem... E conheceu uma moça... quase uma princesa! Por quem se apaixonou. Mas ela era de uma província distante e o nosso protagonista não tinha condições financeiras de vê-la constantemente. Desesperado saiu a caminhar de novo, imaginando alguma solução para seu dilema. Foi conversar com a grande árvore, que temerosa lhe ofereceu os galhos, ainda cheios de flores e frutos para que construísse uma jangada, trocasse por passagens de avião e fosse se aventurar pelo mundo e pelo amor. Nosso jovem conheceu novas terras, desbravou incontáveis províncias e conheceu algumas princesas antes de se decidir.

Eis que o jovem corre o mundo e encontra um amor verdadeiro. Os dois se casam e querem casa nova, o espaço é pouco para tanta gente. Ele e a família precisam de uma casa, mas não há dinheiro para comprar. Um pouco mais maduro (mas não muito), ele volta para visitar a árvore. Depois de muita cerimônia, ele finalmente pede para que sua (já não tão frondosa) amiga lhe dê o tronco. Ela, tremendo de pavor (igual vara verde), entende e se entrega, até restar apenas um toco.

A vida passa, e a casa protege todos do frio e da chuva. Cada um toma seu rumo e o moleque, agora um senhor, sente-se só por vezes. Ele vai até o toco por vezes também... Conversam e lembram sobre suas vidas: o homem conta suas viagens, a árvore suas estações. Ele virou um grande resmungão e se diz, por vezes, cansado da vida e indignado com as atitudes alheias. O toco sempre ouve tranqüilamente e procura compreender. Num rompante curioso, o homem pergunta:

- Ora, porque você sempre foi tão generosa comigo se as árvores nascem sozinhas? Transformei-lhe num toco e nada mais pode oferecer para me ajudar hoje...

A árvore, enquanto toco, se oferece como assento. O homem aceita envergonhado e cansado. O toco dá um profundo suspiro e diz, irradiando felicidade:

- Contemple daí sentado meus brotos nascendo. Todas estas sementes você ajudou a germinar enquanto comia meus frutos, espalhava meu pólen pelo mundo e passou demãos de verniz em sua casa para me eternizar... sou eternamente grata.

Ele olha ao redor e se percebe sentado num toco, o centro do frondoso bosque que virara seu quintal. O toco arremata:

- Me sinto muito feliz por ser o lugar onde você vem refletir sobre a vida, filho.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Bono Vox e a Sagacidade Lusitana

Em um concerto do U2 em Lisboa, Bono pediu silêncio ao público e começou a bater palmas compassadamente. Olhando para as pessoas, que estavam em silêncio, ele disse no microfone:

- Eu quero que vocês pensem em algo muito sério. A cada batida de minhas mãos, uma criança morre na África.

Nesse momento uma voz das arquibancadas grita:

- Então para de bater, ó filho da p*&¨%!

(Recebi por e-mail)

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Pêssego

(Manoel de Barros)



Proust
Só de ouvir a voz de Albertine entrava em orgasmo.
Se diz que:
O olhar do voyeur tem condições de phalo
(possui o que vê).
Mas é pelo tato
Que a fonte do amor se abre.
Apalpar desabrocha o talo.
O tato é mais que o ver
É mais que o ouvir
É mais que o cheirar.
É pelo beijo que o amor se edifica.
É no calor da boca
Que o alarme da carne grita.
E se abre docemente
Como um pêssego de Deus.

*Foto de "WTL photos"

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Comunidades na Internet

A inclusão digital no Brasil trouxe conseqüências inimagináveis. Pessoas de todas as idades, regiões e classes sociais do nosso país (de "dimensões continentais") integram o que hoje pode ser cogitada como a maior base de dados sobre a população brasileira: o Orkut. Obviamente, dentro disso subentende-se todo o potencial mercadológico e comunicacional das informações que podem ser extraídas deste site específico. Se existe alguma metáfora para "inconsciente coletivo", creio que o Orkut seja o que melhor se encaixa aqui em terras tupiniquins.

Muita gente e ingenuidade/ignorância abundante para com o meio é o que mais caracterizou o Orkut pra mim. Muitas pessoas cometeram orkuticídio em função disso até... Outras voltaram depois de um tempo de "rehab" e aprenderam sobre o quê querem e o que não querem expor de suas vidas...

Todos voltam pro Orkut depois de terminar um namoro, é evidente, meu caro Watson. Sua função como bem disse um amigo uma vez, é servir como o "grande barzinho da nação", onde vc pode encontrar alguns amigos, conhecer outros e obter informações valiosas sobre quem conhece quem, quem responde quem, quem gosta do quê... A quantidade de assuntos aumenta muito depois de ver as comunidades que aquela gatinha "participa".

Não demorou muito para que o Carnaval fosse incorporado também. Muitos começaram a criar avatares-fantasia e saíram na gandaia: seqüestros relâmpago com informações do Orkut, crises incontroláveis de ciúmes, bancarrota de relacionamentos estáveis, crescimento significativo na venda de câmeras digitais, uma vontade incontrolável de checar o computador a cada 15 minutos na esperança de um scrap... e muita, muita putaria... Já testemunhei linchamentos eletrônicos em página de scraps de acusados de assassinato, e já prestei homenagens póstumas a contatos orkutianos... Novos tempos pedem novos rituais.

O mais engraçado de tudo é que, embora o site tenha sido proposto, uma época pelo menos, para maiores de 18 anos, isso definitivamente não foi o que aconteceu... As comunidades "acéfalas" foram pipocando e subvertendo o sentido, que eu acreditava, original... começaram a ser usadas mais para criar vínculos bizarros de identidade entre as pessoas, do que para discutir assuntos de fato. É mais importante e fácil participar do que escrever. Claro que temos casos em que isso não acontece, mas acho q esse vídeo aqui abaixo vale pra 80% do que tá disponível no site... o q não deixa de ser muito interessante e culturalmente exótico (viva nóis!):



Milhões de parabéns atrasados para a Rosana Hermann que criou, editou e narrou esse vídeo, um dos vencedores do XIII Festival do Minuto de 2006, regional São Paulo. O tema era "Comunidades da Internet". Paguei um pau... e a narração tá sensacional!