quarta-feira, 29 de abril de 2009

Sine qua non

Escrever de ti afasta
da condição humana.
A dor diz um basta,
idealiza-se o drama.

Assim que escrevo
releio e relevo
a morte nefasta
pois vida alastra.

Apenas concentro
o fundo do peito
naquele teu jeito
e num pulo adentro
a condição de quem ama.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Prefiro a ti

Vamos falar sobre os anos,
refazer nossos planos.
Esquecer outros casos
e passar outro pano
que tire a poeira
dos nossos retratos.

Vamos acordar os vizinhos
com tantos carinhos,
com tantos beijinhos
que estalam tão alto.

Tudo o que vivi
foi só pra certeza
que prefiro a ti.

Soneto Boêmio

A paixão sempre me isola
quando não há o que arder.
Quando nada me amola,
quando é chato viver.

A paixão não cessa,
mesmo sem promessa,
mesmo sem um objeto,
objetivo ou desafeto.

A paixão que me queima
sem fagulha ou oxigênio
faz do meu dia um boêmio.

Um que insiste, que teima
à procura de um prêmio:
bares, paixão e a próxima.

terça-feira, 14 de abril de 2009

Dream On

O que foi aquilo?
O que fomos nós
aquele dia?

O mais mágico final,
o mais mítico começo?

Teu abraço, tuas covinhas,
teus olhos nos meus olhos
tão cúmplices e companheiros,
teus cabelos, teus cheiros.

Dez em sete vezes que te amo!
Tua beleza é teu infinito,
tua neblina com teu brilho
O que foi? O que foi aquilo?

A repetição me inebria em teu ciclo.
Encanta-me cada gesto, te reconheço.
Cada palavra, cada gracejo.

Só você dança comigo.
Só teu peito me embala
no mais belo final que valha
o mítico começo que se fala.

Eu só quero que você me queira,
Amore da minha vida...

Cada palavra, cada gracejo
cada risada, cada...

Cada beijo!
Que não se sabe passado,
ou futuro, ou final,
ou começo...

Cada beijo!
Que não conhece o tempo
pois sonho é destino,
felicidade é caminho,
cada beijo, carinho.

sábado, 11 de abril de 2009

Cha cha cha changes

Penso que levo minha vida
a pensar quais pensamentos
nesse mundo mudar queria
e no final do dia, eu lamento,
meu pensamento teimoso
a se pensar pretencioso.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Contexto

Contexto muda o caminho
alarga e estreita sozinho.
Finais vêm no começo
do que será novo contexto.
Encruzilhadas reconheço
e me despeço, alguns agradeço.

Pessoas que têm signos,
e não divino desígnio,
contexto muda muito
mais do que sentidos e ressentidos.

Separa o joio do trigo,
analisa, balança e julga,
planeja, festeja, almeja.
Contexto multiplica a tribo,
contexto dobra os sinos.
Contexto seguimos,
contesto reprimi-los.

Contextos são sacis,
contextos são meninos.
Contextos construímos,
contexto nós saímos,
contexto perseguimos.

Contesto contextos com textos.

São Paulo flutua no rush


Em São Paulo não tem gravidade.
São pombos voando, correndo,
correio e correntes de emails
levando no lombo os arreios.

Tapadeiras retrovisoras
pela ponte marginal de emissoras
de gases, motores, espelhos
enfileirados e sem qualquer peso
definham-se em faróis vermelhos
num compulsivo olho obeso
do petróleo que queima dantesco
à espera da sala de estar.

Em busca da esteira de andar,
o velho a beber nos botecos,
um artista invadindo os becos,
e roupas expondo bonecos.

São Paulo não tem gravidade,
só almas em tubos dentifrícios
e um silêncio pluvial.