segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Ex movere

Primeiro escrevo tudo
aquilo que me aflige.
Que traga cigarros,
que range dentes
quando tento sonhar.

Escrevo e encaro
como quem escarro
e mastigo quando tento,
como tento desejar.

Onde o real,
o concreto
se encontra
com o ideal?

É no corpo,
só no sentimento?
No sentido?
Do que se lembra?
E a vida?
Diga lá o que é, baby:
uma coleção de emoções?

Um chuveiro quebrado,
um bom negócio?
um pai que morre?
um filho?
presença e saudades da amada?
realizações profundas, sagradas?
e as sacrificadas?
eram menos profundas ou sagradas?

Como os mitos são forjados?
Uma liga de bronze fundido
rompe as carótidas de um cordeiro pensante.
Qual o drama? You missed the plot!
O ator tá morto no deserto.

Qual o drama do herói?
Representar a todos?
Sendo assim?
Escutando fantasmas?

Porque escrevo meus poemas
no meu caderno de informações profissionais?
Os fantasmas não eram nada
mais que o ranger dos meus próprios
dentes quando amanhecer.
Amanhã é segunda-feira,
ou daqui a pouco?

Releio, declaro
com beijo e phalo
que quero te amar.
Se eu quero que você me ame,
começo a te amar.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

3 possibilidades para a destruição do amor

"Acabamos de definir a tríplice destrutibilidade do amor: em primeiro lugar, é essencialmente um logro e uma remissão ao infinito, posto que amar é querer que me amem, logo, querer que o outro queira que eu o ame. (...) Em segundo lugar, o despertar do outro é sempre possível; a qualquer momento ele pode fazer-me comparecer como objeto: daí a perpétua insegurança do amante. Em terceiro lugar, o amor é um absoluto perpetuamente feito relativo pelos outros. Seria necessário estar sozinho no mundo com o amado para que o amor conservasse seu caráter de eixo de referência absoluto. Daí a perpétua vergonha do amante, ou seu orgulho, o que, neste caso, dá no mesmo."
(SARTRE, Jean-Paul; "O Ser e o Nada", pág. 470, Ed. Vozes)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Eu que é só teu

Para escolher o que é parte de mim
reparte a minha vontade.
Escolho palavras e atos
tão sólidos quanto abstratos.
Jogo no mundo, se me encontrastes...
Fecho o olho e pulo
à espera de teus comentários.

Mas só eu mesmo, Para-Si
me encontraria no oráculo, hilário.

Para-Outro seria
relevante te encontrar.
Saber como ando
meu lado coisificado.
Pois das coisas que escolho
sozinho já me sinto
parte partido, já parto abandonado.
Pois faltam teus olhos
no meu sentido.
Falta eu que é só teu,
falta eu, teu namorado.