domingo, 27 de abril de 2008

Your emotion to the ocean

Waking life permanece como o melhor filme que já assisti. Essa cena, a melhor cena. Aqui vai também o trecho do script que não tive os dons de traduzir, pq acho q fica uma merda toda vez q tento traduzir. Além de diálogos potentes, o filme tem uma edição ótima, uma direção de arte de tirar o fôlego. Foi a primeira vez na vida que assisti um filme nesta técnica de rotoscopia, que consiste basicamente em filmar e depois desenhar por cima no computador.

A sensação "onírica" é completa com as camadas (layers) de desenhos que se movem em direções independentes. Deixam até mesmo tontos, nos primeiros minutos, os mais esteticamente fracos da vista. Vale a pena também reparar no tamanho do olho do marinheiro enquanto fala e no patinho que faz "blablablá" na altura do 1min24s hehe.

Sempre achei q o cara falava "your emotion to the ocean"... hoje quando fui procurar o roteiro percebi que era "we're in motion to the ocean". Ainda acho muito melhor do jeito que ouvi pela primeira vez, mas tudo bem, isso não muda muuuuita coisa na cena, só fica um pouco mais mecânica e um pouco menos lírica...

Será que ele não fala "your emotion to the ocean"? mesmo??? claro q não :-$
Bom, assistão vocês mesmos... Toot, toot!



(A boat car drives up in front of the airport)

Ahoy there matey! You in for the long haul? You need a little hitch in your get-along, a little lift on down the line?

Oh, um, yeah, actually, I was waiting for a cab or something, but if you want to ...

All right. Don't miss the boat.

(He gets in.) Hey, thanks.

Not a problem. Anchors aweigh!

So what do you think of my little vessel? She's what we call "see-worthy." S-E-E. See with your eyes. I feel like my transport should be an extension of my personality. Voilà. And this? This is like my little window to the world, and every minute it's a different show. Now, I may not understand it. I may not even necessarily agree with it. But I'll tell you what, I accept it and just sort of glide along. You want to keep things on an even keel I guess is what I'm saying. You want to go with the flow. The sea refuses no river. The idea is to remain in a state of constant departure while always arriving. Saves on introductions and good-byes. The ride does not require an explanation. Just occupants. That's where you guys come in. It's like you come onto this planet with a crayon box. Now, you may get the 8-pack, you may get the 16-pack. But it's all in what you do with the crayons, the colors that you're given. And don't worry about drawing within the lines or coloring outside the lines. I say color outside the lines. You know what I mean? Color right off the page. Don't box me in. We're in motion to the ocean. We are not landlocked, I'll tell ya that. So where do you want out?

Uh, who, me? Am I first? Um, I don't know. Really, anywhere is fine.

Well, just -- just give me an address or something, okay?

Uh --

Waking Life: Chapter 2 - Anchors Aweigh: Linklater without a head(The guy sitting next to him in the back seat speaks up) Tell you what, go up three more streets, take a right, go two more blocks, drop this guy off on the next corner.

Where's that?

Well I don't know either, but it's somewhere, and it's going to determine the course of the rest of your life. All ashore that's going ashore. Ha ha ha ha ha. Toot, toot.

***

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Ofídeo

Esse cara (Squeeze Girl) é tão trash, mas tão trash que merece um poeminha trash, só pra ele:

Você rompeu
membranas no meu coração.
Dilacerou meu peito,
roubou meu sorriso,
calou um violão ventrículo,
meu assunto morreu venoso.

Uns anos de retratos,
uma caixa inútil
na vida de um réptil.

O sangue frio
bota fogo nas fotos:
uma a uma.

O sol e a desmemória
aquecem as hemácias
num abraço-anaconda,
viram amazonas à caça
de subterfúgios de carne.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Branded Baby


A imagem (provavelmente) é da AdBusters. Não é grande novidade fazer montagens, ou ver pessoas "de verdade" com tatuagens e logotipos corporativos, mas é a primeira vez que vejo num bebê amamentando.

Não sobraram muitos comentários depois da foto...

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Desista da Publicidade




O mesmo pessoal que fez e distribuiu adesivos escritos "You don't need it" para colar em cartazes e placas publicitárias há poucas semanas atrás, agora lança uma nova campanha onde promete ajudar publicitários que queiram desistir da profissão e fazer outra coisa. Eles prometem inclusive ajuda financeira! Se você, colega, acha que não vai mais dar certo, eis a solução... Aqui vai o link para se informar e aqui o link para preencher o formulário de adesão.

Vou dar uma lida com cuidado nos termos agora. Não nego possibilidades! hehehe



Bom... não preciso dizer que achei a idéia muito boa. Tanto a primeira dos adesivos, como esta incentivando e bancando um mundo com menos marketeiros/publicitários.

Obviamente, não é uma medida que trará alguma alteração pragmática no mundo. No entanto, toda vez que se pára pra pensar sobre a crescente antipatia mundial contra os métodos mercadológicos, eu acho válido. Gosto de ver holofotes midiáticos focando neste assunto... A grande ironia na minha opinião é que tudo o que é criado para fins "anti-publicitários" acaba fagocitado pelo mainstream-corporate-trendy-stilish-cutting-edge e regorgitado em forma de peças mal e porcamente parafraseadas/ parodiadas.

Não demora pra Nike ou a Sprite distribuirem stickers "anti-publicidade". Nada específico contra as duas empresas dadas como exemplo; mas que não demora, não demora :-s

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Amor Natural (Carlos Drummond de Andrade)



Fazia muito tempo q procurava estes poemas pornográficos do Drummond, mas nunca tinha encontrado... Talvez não tivesse procurado direito, mas valeu a pena encontrar. São absolutamente sensacionais!

Sei que este blog anda um tanto quanto "libidinoso", mas fases são fases... Sem contar que existem influências externas para isso... um assunto puxa o outro.

Enfin! Me parece que a idéia de "bicho humano" nunca esteve tão desenvolvida quanto na cabeça dele. Ao mesmo tempo que, nestes versos, vai atrás de um hedonismo crú, quase egoísta; Drummond acaba de me provar que é possível perder todos os pudores publicamente sem ser vulgar com a própria imagem. Sem deixar de sentir o mundo nos ombros, ou de querer andar por aí de mãos dadas, ou de ser anjo gauche na vida, ou de encontrar pedras no caminho, ou de ser um humano: "estranho ímpar".
O último desta lista é é sem dúvida meu favorito. Aqui vão:

Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


A castidade com que abria as coxas

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres

em mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.


Mimosa boca errante

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.


Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Rock n' roll, babe, rock n' roll!!



Aconteceu num sábado. Já fechara o metrô quando fiz baldeação para a linha verde. Não me lembro bem se era Paraíso ou Ana Rosa. Estava voltando do cinema que fui assistir com a Fefa. Era a primeira vez que saía com ela, depois de conhecer numa balada. Provavelmente seria a última, é difícil dar sorte...

Me sentei bem à vontade no banco cinza desocupado. Não foi por nada, havia só uma garota no trem e resolvi me sentar de frente para ela. Imaginei ter visto um piercing na língua dela enquanto ela falava, cutucando outra jóia no nariz delicadinho. Ela era linda e a mini-saia pendia o olhar até o final da meia arrastão, que continuava numa bota preta, que continuava até o fim de um salto alto, até o final de uma ponta fina.

Já era... Estávamos na Consolação quando os dois que acompanhavam a moça desceram, provavelmente para a Augusta. O maluco do bigode também desembarcou. As portas fecharam, o cara do violino parecia um tanto bêbado agora. O contraste da indulmentária erudita com o tio do bigode "do avesso" não permitiu que eu avaliasse o músico direito. Agora ele estava sentado com a cabeça entre os joelhos, deprimente.

Olhei para uns dois cartazes de publicidade rapidamente antes de correr meu olhar para moça, que estava me encarando! Encarar é quase proibido no metrô. Estávamos praticamente sozinhos no vagão... Já queria imaginar que não podia ser sem querer aquela encarada, mas ainda era cedo demais para tirar tantas conclusões.

O metrô pára e abre em Clínicas, imóvel. A capa aberta pelo banco, todo aquele preto era uma moldura para a cintura fininha que brilhava com o piercing no umbigo. Ela abaixou o olhar e com as pernas juntinhas, encostou a mão esquerda na coxa. Começou a repetir o desenho da meia com a ponta do dedo, como se estivesse redesenhando a rede das pernas branquinhas com a unha.

A suicide girl levanta o olhar e o indicador direito, antes que eu pudesse desviar, e chama com o dedo. Olho para trás e ninguém entrou no vagão, as portas fecharam. Balbucio qualquer coisa faticamente para ter certeza de que era comigo.

Aquela cena de propaganda de desodorante me move. Sento-me ao lado dela. Ela se chama Ana, vem de Francisco Morato pela primeira para Sampa, não tem onde durmir e quer passar noite no Morrison, por isso vai descer na estação Vila Madalena:

- Você sabe me explicar onde é?

Viro o olhar para o teto por um segundo, para pensar e, antes que pudesse dizer que era longe pra caramba dali (ou perguntar se ela tinha realmente fugido de casa) ela pulou e me arrancou um beijo. Nossa! Ela tinha um piercing na língua mesmo! Chegando na estação Sumaré vazia, poucos carros lá embaixo. A porta abre, ela coloca a mão dentro da minha calça. Quando já não mais percebia nada, o músico está de pé ao nosso lado, cambaleando e esbravejando:

- Vocês se respeitem, se respeitem!

A porta se fecha, ele se vira e corre mais desolado em direção à porta, batendo no vidro, quase chorando:

- Eu quero descer! Quero descer! Abre, abre!

Ele vira de novo, nos olha, abaixa a cabeça, encosta as costas na porta e desce deslizando até sentar no chão. A porta abre com uma campainha, ele quase cai fora. Levanta-se e vai embora correndo, ao se assustar com a campainha da porta, que se fecha novamente. Rock 'n roll, babe, rock 'n roll...

terça-feira, 8 de abril de 2008

Deixa eu ver, Cariño, deixa?



Mostrou os olhinhos brilhando com um sorriso... Não tem como não se alegrar. Poderia ficar ainda mais horas online para encontrá-la daquele jeito. Falar era uma telepatia com os dedos. Os silêncios não eram vácuos, pois se preenchiam de calores efusivos. Claramente um ritmo se estabelecia com a respiração.
Vez ou outra ela ligava a webcam. Madeixas negras enquadrando o pescoço e ombro nú. Queria sabê-la, mas perdia o raciocínio em contemplação perplexa. Ela falou que tinha engordado. Sabia que era a deixa para um galanteio mais ousado:

"vc deve tá uma delícia então..."

Imaginava tudo ainda mais redondinho, curvas firmes e suspensas. Quando ela ficava de pé, sua pele sustentava com rígida suavidade toda a carne, cujo peso reforçava ainda mais a perfeita hipérbole na pele debaixo dos seios e da bundinha. Incentivava contido, mas ofegante:

"levanta preu te ver, Cariño
tenho certeza de que vc tá maravilhosa"

A ninfa sabia o que fazer para provocá-lo até o fim. Não existe fetiche mais cruel que a virtualidade:

"não posso, estou só de calcinha"

Foi assim e mais algumas deixas...

"Deixa eu ver, Cariño, deixa?"

domingo, 6 de abril de 2008

Saia



E Deus criou o homem. Mas o homem andava muito borocoxô... Só naquela posição de pensador bêbado.
Aí Deus criou a mulher. Mas mesmo assim o homem não percebeu como que aquilo poderia melhorar. Homem nunca percebe estas coisas, imagine então o primeiro deles.
A mulher andava triste e nua pelo paraíso, sem ninguém para lhe assobiar o balanço. Nem construção civil havia para encher o ego dela... Desesperada e sem filhos, aos 30 e poucos, Eva tinha a mais poderosa combinação estética em si: a própria beleza feminina original. Para ajudar, seus hormônios ferviam e fermentavam de tesão por Adão.
Deus não entendia o que estava acontecendo:
- Porque não te multiplicas, mulher?!
- Tento de tudo, mas nada parece chamar atenção dele, ó pai. Ele fica lá pensando, murcho e sem viço... Não posso mexer naquilo que não é meu, não como está.
- Precisas provocar o homem, minha filha, não deixa ele pensar... Ele será todo teu quando o sangue faltar ao raciocínio.
- Ok...ok... Acho que agora entendo o que dizes, Senhor.
- Queres uma maçã para ajudar?
- Não, não... Dá-me uma saia que resolvo :-)

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Custom-Capitalism vs. Capitalismo de Consumo



Olhei para a foto e esta foi a primeira coisa que veio à minha cabeça "custom capitalism". Sei muito bem que Capitalismo de Consumo é um termo científico e que ele deve englobar milhões de conceitos dentro de sociologia, economia e etc. Ainda em tempo, não sei se existe alguma tradução para o termo em inglês... ou se ele foi cunhado por algum francês que não é aceito na literatura anglo-saxônica.
Mas (!) uma coisa eu sei: a palavra custom, por forças culturais, quer dizer muito mais do que "consumo". Custom significa, antes, um hábito, uma prática, um modo de agir social. Custom é definitivamente um fato social. Numa consulta simples um dicionário online qualquer, como o Answers.com, podemos encontrar o seguinte:

Custom
noun
1. A habitual way of behaving: consuetude, habit, habitude, manner, practice, praxis, usage, usance, use, way, wont.
2. The commercial transactions of customers with a supplier: business, patronage, trade, traffic. See transactions.

adjective
1. Made according to the specifications of the buyer: custom-built, customized, custom-made, made-to-order, tailor-made.

O que queria explicitar é que o ato de consumir tem um significado muito mais complexo no léxico daqueles cuja língua-mãe é o inglês. Para nossotros, hablantes de português, creio que faria mais sentido o termo "Capitalismo de Costume" ou "Capitalismo sob medida", ao invés de "Capitalismo de Consumo". Consumo conota algo perjorativo em mim, algo descartável, destruidor, imoral e definitivamente estrangeiro. Já vi centenas de plaquinhas em estabelecimentos comerciais ingleses onde se lê "thanks for your custom", imagine aqui no Brasil... hahaha "Obrigado pelo seu consumo"? Muito politicamente incorreto para os meus super-padrões brasileiros de coisas politicamente incorretas. Acho que as padarias vão continuar com o famoso "Obrigado pela preferência", o que no final das contas acaba por ser um agradecimento ao hábito, ao costume daquela pessoa (tal qual o é na Inglaterra).

Esta foto, tirada por Sam Javanrouh em Toronto, tem muito mais sentido assim: Custom-Capitalism. Não desmerecendo o nome dado pelo fotógrafo, muito mais poético e descritivo ("The Fountain").