Uma gazeta existencial e pós-contemporânea. Contém poesias embaraçosas, expressões viscerais escarradas e uma boa dose de caótico desejo intenso. Tudo sem absolutamente nenhum compromisso com a verdade ou ficção.
Acabei de voltar da exposição que tá rolando no Itaú Cultural da Paulista. Excelente! Várias entrevistas e poemas q não conhecia... O melhor de tudo, é de grátis! Esse é um dos poetas que eu mais gosto de digerir...
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nunca quis ser freguês distinto pedindo isso e aquilo vinho tinto vinho tinto obrigado hasta la vista
queria entrar com os dois pés no peito dos porteiros dizendo pro espelho - cala a boca e pro relógio - abaixo os ponteiros.
Quando nasci um anjo bobo,
desses que parecem curinga,
contou uma piada pra mim.
Como tivesse tomado pinga,
achei ela muito engraçada
e repeti a galhofa sem fim,
criando assim a palhaçada,
que se espalhou pelo globo.
Me ensinou com franqueza
que toda piada é a mesma,
só muda a balada, a toada,
a roupa lhe faz personagem,
mas esconde sua alma pelada
de verdade gostosa, gozada.
Tal qual qualquer chiste
que nossa cultura assiste.
Trata-se da veste do bobo
que pisa por vezes no fogo,
malabares com certa ferrugem,
toma quedas, silvos de escárnio.
Todo bobo é um funcionário,
com crachá, horário e salário:
advogado e promotor do demônio,
comandante geral dos hormônios.
O jocoso não arrependido
é tudo menos fingido...
eis o refúgio secreto do cômico
rir à toa de toda ferida
e ofegar de risada querida
com veneno de rótulo irônico,
que põe culpados em pânico
e carrancas a pedir penico
Os humores são como marretas
que quebram qualquer gelo,
e despedaçam estatuetas.
São raros silêncios singelos,
é a compreensão do bom gosto
com aquele rubor no rosto
de quem recebe o martelo
e de medo arrepia seu pelo.
Quando nasci um anjo bufão
me ensinou a rimar e então,
como tivera tomado cachaça,
não acabou nunca a graça
e assim no coreto da praça
ficamos a fazer arruaça
com a voz rouca, enternecida,
dando muita risada da vida.
De Londres a Londrina não é qualquer esquina qualquer menina, qualquer neblina de Londres a londrina não é pequena sina, não somos mais longe, só não é o mesmo clima de Londrina até Londres tem som de tangerina que foge dos sabores selando dois amores de Londres a Londrina não é qualquer esquina qualquer guitarra que se arranha que me amarra me alucina a Inglaterra de Londres a Londrina meu amor é teu intacto, minha cratera é teu impacto de Londres a Londrina o oceano se destina aos rios sem horizonte sem beijinhos ou ponte, há paixão que não se ensina de Londrina até Londres de Londres a Londrina faz da nau um verso torto nosso mar um amor morto sem peixinhos, sem um porto de Londres a Londrina.
Meu avô que é vivo é velhinho, e nunca me contou uma só história. Meu avô nunca me disse nada direito, nem dele, nem de ninguém. Só sei dele o que me falam e a tristeza que vejo naqueles olhos de nunca ter sido entendido direito por nenhum neto. Dá muito trabalho ouvir ele. É como se ele tivesse perdido a Voz; maiúscula, que vai além do som articulado no ar. Hoje só lhe restam atos. Eu o amo, mas a expressão corporal dele não é das mais simples. A depressão veio e foi, veio e foi com o tempo. O álcool não. Perder pessoas queridas só não é pior que perder a si próprio. Uma vez, várias vezes, até hoje troco umas palavras com o Biguá, meu avô. Um transeunte que anda semicorcunda, ritmadamente pelas calçadas, com os braços para trás do tronco, segurando o cotovelo esquerdo com a mão direita. Andar que combina com o apelido ornitológico. Moreno, cabelos grisalhos e sem a menor perspectiva de calvície, nariz italiano. Faz mais de trinta anos que ele não fala, tem uma traqueostomia permanente na altura do pomo-de-adão e nunca se adaptou com nenhum aparelhinho de voz. Não teve o mesmo sucesso futebolístico que o xará, que chegou a atuar no antigo Água Verde em Curitiba, e depois no Flamengo. Toda vez que converso com ele temos exclusivamente um assunto: futebol. Acho que foi meu pai quem me ensinou este truque. Ele é corinthiano, eu santista. Meu pai também era santista. Acho que meu vô tem um sotaque bem do sul do Paraná. Ele é natural de Irati, ou ali de perto. Minhas avós são polonesas, mas o Biguá é uma mistura bem mais heterogênea. Nosso sobrenome é italiano, mas é sabido de todos que a mãe dele (minha bisa) era bugre, o que quer dizer índio do Paraguai lá onde me contaram essa história. Esta bisa teve cinco ou mais filhos e morreu quando eles ainda eram crianças. Meu bisavô (de quem meu pai tinha muita admiração), vulgo Macaio, segundo me consta recebeu tal alcunha graças a uma marca de fumo. O velho Macaio entregou um filho para cada padrinho e caiu na esbórnia. O Biguá trabalhou a maior parte da vida na fábrica de fósforos Paraná como gerente de algo. Tem um dos meus tios que também trabalhou lá contando palitos para colocar nas caixinhas. A fábrica era do Macaio e de mais alguns irmãos, eu acho. Dois dos filhos acabaram fugindo nestas mudanças e não voltaram mais. Só o Benito, que vivia em Uraí. Ele viveu como bóia-fria, virou indigente, e quando teve um câncer de pele bravo foi que o pessoal voluntário do hospital entrou em contato com a família. Quando o Benito voltou, meu avô teve mais uma das crônicas crises alcoólicas. Não sei o que rolou com os dois, mas na época isso me mostrou o quanto o não-papo devia ser pesado para os dois. O Benito era santista, foi expulso por um surto do vô e depois foi morar lá em casa. Dos cinco filhos do meu avô, três sairam corinthianos e dois sairam santistas. Meus tios jogaram todos no Cedrinho F.C. de Iraty. Eu nunca fui muito fã de futebol, não ligo muito mesmo e aos quinze anos achei que se tratava do ópio do povo. Meu avô escuta futebol no rádio. Outro dia fui com dois amigos no estádio assistir um Santos e Corinthians, só que fui na torcida do Corinthians. Que erro! A sensação de não poder torcer pelo seu próprio time é extremamente delicada. Eu não pude gritar gol e precisei simular contentamento com aquela torcida alheia e carrasca. Tudo para não atentar contra minha própria vida quando fomos derrotados ao final do derby. Um exercício de paciência. A censura de uma expressão tão primária e forte quanto uma torcida é tal que me levou a um estado borderliner de não sei o quê. Eu só topara a princípio a experiência por acreditar na minha parcial impassionalidade com o assunto, mas jamais aconselho tal experiência para ninguém. Meu avô grita no meio da torcida e ele deve sentir a vida adversária. Mas isso são coisas que me contaram, a Voz dele eu nunca escutei.
Mas... não vou descer do busão quero saber onde ela mora, quero saber se ela namora, se ela gosta da canção que eu já pensei agora que ela refutou o botão.
Fecho os olhos para ter aqueles cabelos tão fininhos por onde eu tranço os dedos, puxo firme e me aninho a descobrir dela os segredos que só revela com carinho.
Vou dizer que o sorriso dela mudou o meu itinerário, e sairei mais depois do horário pra acompanhar esta donzela. Chefe, aumente o meu salário que irá todo em flor pra ela.
Se todas as almas do mundo
escutassem ao mesmo segundo
Teria uma ou duas palavras...
O que você falaria?
Paz, amor, gol?
O nome da sua amada?
Nome da sua banda, nada?
Se fossem as almas do mundo
por total atenção um segundo
você venderia pra um comercial?
Falaria seu próprio nome,
agiria em causa nobre?
Trocaria na internet
por um novo patinete?
Se todas as almas do mundo
lhe escutassem um segundo
gritaria ou calmaria,
a quem você diria?
À sua distante terra,
ao seu distante deus,
à sua próxima guerra?
Se todas as almas do mundo
lhe escutassem uma palavra
entoaria ou prozaria?
Faria apologia proibida?
À ecologia, ao polo, à vida?
"Rock 'n roll!", "toca Raul!",
ou um sonoro "vão tomá no cú!"?
Penso que levo minha vida a pensar quais pensamentos nesse mundo mudar queria e no final do dia, eu lamento, meu pensamento teimoso a se pensar pretencioso.
Contexto muda o caminho alarga e estreita sozinho. Finais vêm no começo do que será novo contexto. Encruzilhadas reconheço e me despeço, alguns agradeço.
Pessoas que têm signos, e não divino desígnio, contexto muda muito mais do que sentidos e ressentidos.
Separa o joio do trigo, analisa, balança e julga, planeja, festeja, almeja. Contexto multiplica a tribo, contexto dobra os sinos. Contexto seguimos, contesto reprimi-los.
Contextos são sacis, contextos são meninos. Contextos construímos, contexto nós saímos, contexto perseguimos.
Em São Paulo não tem gravidade.
São pombos voando, correndo,
correio e correntes de emails
levando no lombo os arreios.
Tapadeiras retrovisoras
pela ponte marginal de emissoras
de gases, motores, espelhos
enfileirados e sem qualquer peso
definham-se em faróis vermelhos
num compulsivo olho obeso
do petróleo que queima dantesco
à espera da sala de estar.
Em busca da esteira de andar,
o velho a beber nos botecos,
um artista invadindo os becos,
e roupas expondo bonecos.
São Paulo não tem gravidade,
só almas em tubos dentifrícios
e um silêncio pluvial.
É tanta coisa que não foco. Quem é meu tempo, calendário ou relógio? Falta pouco p'r'o amargo. Muito louco sobra tanto nessas voltas do ponteiro, nas folhas que não tiro, um afago, um recanto, semana-sorriso, minuto-pranto, sem prévio aviso feito espírito santo, feito o tempo teofágico decapitando sua prole. Num momento mágico o tempo te engole
Sozinho, só, sozinho. Solzinho, Sol, sequinho. Sol, bemol, menor no estribilho. Adeus "há Deus", atei de ateu. Há dias adias. Sem suprimento, lamento. Tem inverno que chega em pleno verão. Cigarra, cigarro, cantoria, casquinha e alcatrão.
O que que foi agora? Pensando na vida? Era tudo o que querias. Não tudo de saída, mas feliz caminho a fora.
Tremendas mordomias... E aquela tua prenda, era tamanha regalia do povo era oferenda ao deus de cara horrenda, contigo ela deitava sonhava e só durmia quando a noite vos deixava, quando levantasse o dia.
Não tudo de saída, mas feliz caminho a fora como da vez que escreveu aquela ótima metáfora, só não me lembro a história, sentimentos ou ferida. Nem do que aconteceu, nem do que será memória. O que que foi agora?
sexta-feira, 20 de março de 2009
Poema é quando se escreve mais ou menos p'ra si próprio. Por isso mesmo nem sempre é belo ou cheira a papoula,
nem sempre se rima a ópio.
A tentativa vem do ócio e da pesca à palavra, pula.
Eu perguntei todos responderam Não me odeia minha ex Nenhuma delas talvez Me curei de uma DST uma amiga agora deixa o carro na garagem outro menos horas na tevê boa notícia em reportagem dos grandes só Brasil cresce na estiagem O tempo desembaça desafetos com coragem efusivamente feliz dancei músicas pois mudar é hábito saudável mudar bem é uma viagem mudar é memorável mudar é essência do amor é o bater do coração dia muito feliz, como não?!
Tenho um amigo que tinha um prurido. Não era chato, mas era p'ra ele problema de fato:
Incomodava todo dia Parecia que andavam, geográfica rua de verme na derme descia e subia. Pulgas nos pêlos equilibravam, Uma urticária uniforme.
Um dia, lhe disse inspirado: - Queira muito realizar sonhos, mas não tua ansiedade, sarna. Pare de roer tuas unhas. Apague também cigarros. Porque não te coça, amigo?
Significado do Nome Aquele que segue em frente com coragem.
Curiosidades do Nome A origem desse nome é um tanto incerta. Supõe que seja uma espécie de colagem de duas expressões germânicas, uma que significaria jornada e outra que seria coragem. Daí a interpretação do significado acima. O fato histórico é que, na Idade Média, o nome Ferdinando começou a se popularizar, aos poucos, na Espanha. E, a partir dele, surgiram variações como Fernando e Fernão.
Ferdinand is a Germanic given name composed of the words for prepared/protection/safety (frithu) and journey/boldness/recklessness (nantha). It is particularly common in nations and regions that were settled by the Visigoths: Fernán, Fernando, Hernando, and Hernán in Spanish, Ferran in Catalan, and Fernando and Fernão in Portuguese. The Visigoths originally pronounced it as Frithnanth, later its Latinized form Frithunantus was pronounced that way by the Romans. According to Visigothic tradition it means "ardent for peace."
The French forms are Ferrand, Fernand, and Fernandel, and it is Ferdinando in Italian. In the United States the name has been Americanized into Fernie.
Etymology From Germanic farð "journey" or frið "peace" + nand "ready, prepared".
Proper noun
Ferdinand A male given name, best known for a 13th century king of Spain, but never popular in English.
Juntaram 20 músicas que podem ser consideradas plágio e colocaram neste vídeo. Vale a pena conferir e perceber aqueles que são "mais iguais" que os outros. Não me convenci de que algumas ali são plágio, mas como não sou nenhum técnico musical também... vale a pena a diversão.
"If we have only one life to live, we might as well not have lived at all" (Milan Kundera)
A dualidade maniqueísta entre leve e pesado só parece um grande dilema para a classificação das tradicionais associações ocidentais (positivo/bom e negativo/ruim) porque a relatividade não costuma ser fácil para a ordem e boa análise, ainda que incorporados pela ciência em alguns aspectos. Assim, o único aspecto que podemos comprovar - nesta relação entre muitos ou poucos Newtons atraindo nossa existência para o centro gravitacional da terra - é que se trata de fato de uma dualidade sensível aos seres dotados de massa.
Porém, dizer absolutamente que determinado objeto ou subjetividade é pesada ou leve determina um ponto de referência que relativizará todo nosso raciocínio necessariamente: denotativo ou conotativo? Os dois, a metáfora só é boa quando é concreta: qualquer nomeação, tipificação, organização não passa de moral, um juízo de valor e/ou necessidade de economia lingüística em favor do grupo social e sua perpetuação. Metáfora da metáfora é meta-metáfora e isso não interessa a ninguém, só ao artista "ainda não-exilado" de ditaduras.
Uma criança, desde o momento em que é fecundada, começa a ganhar peso. Deixa de ser leve e passa a existir com o peso do gozo que é guardado pelo corpo, que o nutre até o momento em que é pesado demais para ser uma pessoa só, nasce.
O peso não pára de crescer. Peso é energia potencial. Peso é corpo. No corpo é onde se sente, é o meio da vida. Cada mililitro de sangue, leite, proteína e água sorvido por um bebê trata-se de energia humana em última instância. Este é um comprometimento do qual não se tem volta, é uma promissória assinada com a linguagem que se ganha a nova cada cognição.
Chega (ou não, para alguns) o momento da vida que somos suficientemente pesados e temos carne, ossos, músculos, nervos, olhos e paladares que são excelentes para nossa independência vital. Suficientes para um ego no limite social de sua liberdade, felicidade, saúde, bem-estar, hormônios estabilizados e em harmonia com os pensamentos.
Esta carne madura começa a murchar logo após seu clímax. Começa a pagar a conta de tanto investimento. A sociedade cobra cada caloria de volta e o peso da cobrança tem o fiel da balança na consciência particular e cada particular ruga no rosto. Muitas vezes dá origem a outra carne da qual se responsabilizará de fornecer energia, voz e peso. "Uma única metáfora pode dar a luz ao amor".
Isso acontecerá enquanto a carne definha e fica insustentavelmente leve (alguns chegam a perder o cálcio dos ossos, quebram). Até o momento em que não há mais nada armazenado naquele corpo para ser entregue de volta ao conjunto da energia humana.
O corpo, inútil, é gentilmente devolvido à terra, à água, ao fogo, ao ar. A memória daquela energia humana tão concentrada se esvaiu numa mágica desmaterializante. Borboletas esvoejam de dentro de uma caixa que não se quereria abrir: a caixa das histórias que não acontecerão mais naquela companhia.