quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Relações Interpessoais e web 2.0


Avatares são a grande novidade social no que diz respeito às relações interpessoais na metrópole desde que a revolução da informação começou a mostrar a que realmente veio com as novidades de web 2.0. O fenômeno de pessoas que perdem horas no exercício narcisista de preencher um perfil pessoal, como se estivessem frente a um espelho, exemplifica bem a importância deste elemento de identificação na comunicação em redes.

Numa abordagem funcionalista, os avatares do dia-a-dia online representam a persona do indivíduo contemporâneo, que tem total liberdade associativa para compor sua imagem virtual, tal qual um deus de poderes ilimitados, ou um super-herói o teria. Essa metamorfose, no que tange a imagem, o nome e a "mensagem pessoal" (no caso dos chats populares como MSN, AOL, Gtalk, etc.) é típica de uma divindade. Todavia, com a fundamental diferença de nossos tempos: um deus individual alojado em um ego extremamente desenvolvido em relação à particularidade de sua identidade social. A fidelidade para com um único sistema de valores cai por terra também já que nenhum padrão de conduta poderá garantir sucesso frente a um público desconhecido. Estamos sempre a pisar em ovos até descobrirmos um pouco sobre os valores, julgamentos e maneiras como devemos tratar um interlocutor casual da metrópole e isso não se reflete no ambiente virtual, onde interagimos sob a proteção da distância física e/ ou anonimidade.

A influência do capitalismo sob a "personalidade coletiva" do ser contemporâneo o transforma, em uma perspectiva isométrica isso é bem verdade, em servo durante as obrigações e senhor feudal enquanto consome. Este contexto abre espaço para nossas complexas atuações sociais, que não esperam encontrar mais em si uma coerência única e simples para atos e decisões, mas uma coerência multifacetada, que levará em conta as diferentes "bolhas" sociais com as quais nos relacionamos todos os dias.

Este fato é importante porque a gama de poderes sociais distribuidos dentro de um ambiente em rede não deixa de ser hierarquizada. Pelo contrário, para que funcionem elas utilizam classificações, programações, rankings e critérios que obedecem a um sistema de poder que tem sido chamado de meritocracia (Wikipedia, Digg), mas que no fundo não passa da mesma manipulação tradicional subserviente à cultura de quem domina as instituições. O que muda é a natureza desse domínio, já que o espaço virtual é multi-dimensional, teoricamente irrestrito e exige uma postura minimamente ativa por parte do usuário, que busca na rede sempre lugares e conceitos que lhe identifiquem. Cada um pode ter a livre iniciativa de criar um clã, um olimpo, uma tribo, de acordo com o sistema ideológico disseminado e acatado como verdade sócio-cultural do grupo que lhe freqüenta. Porém, o que a expansão da Google tem deixado claro é que, assim que um domínio adquirir certa popularidade, ele será fagocitado, como foi o caso do Youtube e tantos outros.

Todos meus contatos imprescindíveis ainda utilizam ferramentas de web 1.0 (como emails, egroups e chats P2P). Isso acontece, a meu ver, devido ao âmbito presencial/real em que surgiram, mas que seriam muito mais eficientes se hoje expandidos para um blog, por exemplo, não se tem dúvida. Isso não acontece, possivelmente, devido a um repúdio à exposição pública. Exposição essa que não constrange em um ambiente virtual fechado, onde os avatares possuem um histórico de encontros presenciais. O controle sobre a audiência é um imperativo para o avatar, neste sentido, pois disso depende seu status na rede; por conseqüência, a influência e poder de seus links sob a opinião de seu público. Este fato, de caráter meritocrático, plenamente subjetivo, coletivo e certamente moral, condiciona e coibe uma participação mais colaborativa por parte do usuário algumas vezes. A exposição em um ambiente web 2.0, por ser muito mais ampla, tende a criar muitos mais avatares para um mesmo indivíduo com mais rapidez do que a web 1.0 poderia possibilitar ou necessitar, sejam eles anônimos ou não.

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