Uma gazeta existencial e pós-contemporânea. Contém poesias embaraçosas, expressões viscerais escarradas e uma boa dose de caótico desejo intenso. Tudo sem absolutamente nenhum compromisso com a verdade ou ficção.
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Rock n' roll, babe, rock n' roll!!
Aconteceu num sábado. Já fechara o metrô quando fiz baldeação para a linha verde. Não me lembro bem se era Paraíso ou Ana Rosa. Estava voltando do cinema que fui assistir com a Fefa. Era a primeira vez que saía com ela, depois de conhecer numa balada. Provavelmente seria a última, é difícil dar sorte...
Me sentei bem à vontade no banco cinza desocupado. Não foi por nada, havia só uma garota no trem e resolvi me sentar de frente para ela. Imaginei ter visto um piercing na língua dela enquanto ela falava, cutucando outra jóia no nariz delicadinho. Ela era linda e a mini-saia pendia o olhar até o final da meia arrastão, que continuava numa bota preta, que continuava até o fim de um salto alto, até o final de uma ponta fina.
Já era... Estávamos na Consolação quando os dois que acompanhavam a moça desceram, provavelmente para a Augusta. O maluco do bigode também desembarcou. As portas fecharam, o cara do violino parecia um tanto bêbado agora. O contraste da indulmentária erudita com o tio do bigode "do avesso" não permitiu que eu avaliasse o músico direito. Agora ele estava sentado com a cabeça entre os joelhos, deprimente.
Olhei para uns dois cartazes de publicidade rapidamente antes de correr meu olhar para moça, que estava me encarando! Encarar é quase proibido no metrô. Estávamos praticamente sozinhos no vagão... Já queria imaginar que não podia ser sem querer aquela encarada, mas ainda era cedo demais para tirar tantas conclusões.
O metrô pára e abre em Clínicas, imóvel. A capa aberta pelo banco, todo aquele preto era uma moldura para a cintura fininha que brilhava com o piercing no umbigo. Ela abaixou o olhar e com as pernas juntinhas, encostou a mão esquerda na coxa. Começou a repetir o desenho da meia com a ponta do dedo, como se estivesse redesenhando a rede das pernas branquinhas com a unha.
A suicide girl levanta o olhar e o indicador direito, antes que eu pudesse desviar, e chama com o dedo. Olho para trás e ninguém entrou no vagão, as portas fecharam. Balbucio qualquer coisa faticamente para ter certeza de que era comigo.
Aquela cena de propaganda de desodorante me move. Sento-me ao lado dela. Ela se chama Ana, vem de Francisco Morato pela primeira para Sampa, não tem onde durmir e quer passar noite no Morrison, por isso vai descer na estação Vila Madalena:
- Você sabe me explicar onde é?
Viro o olhar para o teto por um segundo, para pensar e, antes que pudesse dizer que era longe pra caramba dali (ou perguntar se ela tinha realmente fugido de casa) ela pulou e me arrancou um beijo. Nossa! Ela tinha um piercing na língua mesmo! Chegando na estação Sumaré vazia, poucos carros lá embaixo. A porta abre, ela coloca a mão dentro da minha calça. Quando já não mais percebia nada, o músico está de pé ao nosso lado, cambaleando e esbravejando:
- Vocês se respeitem, se respeitem!
A porta se fecha, ele se vira e corre mais desolado em direção à porta, batendo no vidro, quase chorando:
- Eu quero descer! Quero descer! Abre, abre!
Ele vira de novo, nos olha, abaixa a cabeça, encosta as costas na porta e desce deslizando até sentar no chão. A porta abre com uma campainha, ele quase cai fora. Levanta-se e vai embora correndo, ao se assustar com a campainha da porta, que se fecha novamente. Rock 'n roll, babe, rock 'n roll...
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2 comentários:
sei nao heim...
hahaha
hahaha
mas ninguém disse que era pra botar fé...
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